23 de novembro de 2009

O MESTRE DA MÁGOA E SEU MUNDO DE FEL - NA ÍNTEGRA

Eduardo Pereira

Juntando as duas partes desta pequêna crônica, para uma leitura mais dinâmica de nossos amigos blogueiros. Aproveito também a oportunidade para agradecer a todos que vem acessando e me inspirando a trazer novas criações. Em especial meus amigos, que não preciso nomear. Sabem bem quem são.

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Mesmo que não quisesse, ele sempre seria assim. Sua doçura e amorosidade o tornavam inglório, indigno de sentimentos de compaixão, pena ou fidelidade. Suas entranhas não sabem bem o que pensam, o que dizem, ou o que sentem. A injustiça sempre teima em acompanhá-lo e acometê-lo a utilizá-la, mas nunca em seu prol, tornando-o o maior dos injustos e descabidos. Questões sem senso de inoportunabilidade são sempre desferidas sem pudor algum, parecendo querer ter certeza do que já sabe. Como se fosse um autoflagelo, e, com cada uma destas questões, se aperta mais o silício contra seu corpo. Não venera o sofrimento e sabe o quanto é ruim, mas em seu subconsciente deve habitar algo que gera um determinado prazer por tal sensação. Ainda assim, consegue dispensar toda a atenção necessária a quem a necessita, e por certas vezes é considerado amabilíssimo. Faceta comum a um bom rapaz. Por excesso de querer fazer tudo, e muito bem, consegue deturpar as mais tranqüilas tardes, as mais belas festas e os mais belos sentimentos. Erro com o qual aprendeu a conviver e é consciente de sua existência. Mas não tem procurado melhorar, acaba por ser inconseqüente e negligente, saber que lhe aplica um "auto-mal", mas continua a apertar a fivela. Ainda é um mortal, mas sofre silenciosamente. De tanto tempo com espinhos a tocar seu fêmur, secaram-se as lágrimas. Lágrimas estas que ele sente medo da aparição em todos os olhos brilhantes que o cercam. Todos estes olhos têm corações, alguns deles amargos, outros sofridos, alguns mui alegres, muitos em farpas.
O seu coração também está em farpas agora. Fora vitimado pelo seu próprio surto psicótico inventivo, diagnóstico que viria a ser criado por ele próprio também, a fim de evidenciar sua falta de bom senso e excesso de atrofia de ideias. Cercado por situações caóticas, situações estas que despertam sua psicose, cria algumas pequenas mentiras para proteger das lágrimas um par destes olhos. Só não saberia que tempos mais tarde estaria desguarnecendo outro destes, os que considerava mais bonitos. Processo lento e dolorido, foi se enforcando aos poucos em sua própria inverdade, até que o banco tombasse por inteiro, e ele visse o laço abraçar ferozmente seu pescoço. O silício já nem importava mais naquele momento, era só um adorno que se mantinha ali. Não se dava conta de que suas atrocidades atingiam também os olhos mais bonitos, mesmo sendo lentamente como seu laço, e que tais olhos depois deste “auto-mal”, que como já lhes disse ele sabia bem fazer, iriam olhá-lo de uma outra maneira, torta, como quem vê que nada mais é sincero se trazido pela boca do Mestre da Mágoa. Dos males, ainda o menor (se é que isto é possível). Os olhos mais bonitos não derramam sequer uma lágrima. Não se sabe se por ter um coração que já está demasiadamente acostumado a sofrer, ou se pelos fortes ventos da tempestade que causou em sua vida. Uma coisa há de certo: Aperta-se o laço, e o Mestre da Mágoa, após pendurado por inteiro, retira-se das vidas dos pares de olhos que o cercam, e em seu último “auto-mal”, retira-se da sua própria também, deixando este relato como despedida. Quem sabe em uma outra oportunidade, o Mestre volte para lhe contar mais relatos, ou mesmo para dizer-lhes se terá conseguido colher lágrimas de enxofre...

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