16 de dezembro de 2010

Coisas...

Me sinto idiota hoje.
Ainda me irrito com pequenas coisas, as mais absurdas.
Pareço uma criança sem um brinquedo estimado.
Reclamo de tudo, de todos,
Mas não consigo saber de onde vem tanta angústia.
Angústia essa que me consome,
Seja por coisas que aconteceram há um ano,
Ou por coisas que aconteceram há um segundo.
Sinto que vou acabar controlado pelos poderosos calmantes,
Isso se meu ciclo não se encerrar antes, coisa que não temo mais.
Se vir a ser assim, vou continuar me sentindo um idiota.
Por essas e por outras coisas.

9 de novembro de 2010

Força ao amigo Nathanael e suas esperanças que ao tempo certo concretizar-se-ão.

Numa cidade, engaiolado,
com o coração apassarinhado,
acoronhado de todo lado,
eis o pobre Nathanael.

Enganou-se ao pensar ser querido,
sempre sendo o bom marido,
foi passando despercebido,
não teve jeito, Nathanael.

Como amante sempre foi quente,
como locutor, bem eloquente,
como ateu o mais descrente,
ora essa, Nathanael!

Pensa que a vida assim segue,
enquanto a aurora lhe recebe,
em seus raios que se recolhem,


Deposita tua esperança,
nos olhos da cor de mel,
eleva tua mente ao céu,
é tua chance, Nathanael.

toca a tua vida,
recebe esta acolhida,
e volta à toda por cima...


Só depende de ti, Nathanael.

26 de julho de 2010

Sed semper amico.

Algumas coisas têm início da maneira que menos imaginamos, e tomam proporções que menos ainda poderíamos imaginar. Algo que por certas vezes você não suportava, ou alguém que por algumas atitudes pensava ser intragável, pode ter uma grande influência ou fazer uma grande diferença na sua vida, por mais que não pareça.
Como a lembrança de um pequeno empréstimo, uma pequena troca de cartuchos do bom e velho Atari 2600 entre dois recém conhecidos faz você cair em um vórtex temporal e rever todo um filme extenso, mas não cansativo. Filme que por poucas vezes poderia já ter chegado a um fim, trágico menos vezes que cômico, ainda bem. Filme que pode até ter tido interrupções, cortes, mas teima em engenhosamente se estender ao longo de nossas vidas. Desde o início da idade escolar, com pivetes feios e bagunceiros, desprendidos de tudo, em plena fase de formação de valores, personalidade, caráter e tudo mais.

Tudo começou aqui.

Enduro, pião, pipa, futebol, dente-de-leite, River Raid, Time do Seu Prudêncio, cueca do Batman, Tazos do Pokémon, quermesse da vila, pastel de feira, Break-dance, Rock’n’roll, gol-a-gol na quadra, desencontro na escola, haloween, primeira virada de noite, cervejas, primeiros porres, primeiros cigarros, primeiros roles, Aranhanai, guitarras, baixos, baterias, microfones, amplificadores, shows, Perua Kombi, Master System, Super NES, Mega Drive, “Goal Storm”, Playstation, Winning Eleven, Fliperamas, No good Goofers, muitas horas de Video-Game no “bar do Evair”, Fliper do Reinaldo, frustrações, Festas da “galerinha”, a menina bonita da banca de jogos piratas, churras temperado com breja e sal grosso, Zé do Boné, Pro Evolution Soccer, MP3, filmes pornô, gibis, chuteiras, Aro 13, Bar do Jeca, festa a fantasia, Pizzas, fim do ensino médio, faculdade, distância, relacionamentos, Técnicos de Clube grande, Jogadores, Mossoró, Corinthians, CM, xaveco furado e muito mais compartilhado...

E já se vão cerca de 19 anos...

Todo esse tempo foi se juntando fôlego e criando imunidade. Até mais que imunidade, diria que idoneidade. Ou ainda hombridade, esta pra poder conversar de peito aberto em situações que contundem os sentimentos, ou ainda o conceito de “caráter”. Pra que mesmo que haja uma reação agressiva, não manifestar a mínima vontade de violência. Pra que não seja necessário esquecer-se de alguém que você lembra por toda a vida, mesmo que tenha combinado esquecer, ainda que pareça contraditório. Pra que continue a rodar o filme e que os atores principais não se percam em meio tanta estória. Pra que ainda venham muito mais cervejas, muito menos cigarros, muito mais a se compartilhar.
E pra que esse filme não acabe tão cedo, que tenha continuações e mais continuações.

18 de julho de 2010

Banalização da Revolução: Entre e faça o que lhe der na telha!

(Após cerca de três meses de abstinência, vou voltar a falar baboseira, povo.)

Não sou adepto do “café filosófico revolucionário”, tampouco do filológico.

Minha ignorância permite apenas prestar atenção aos fatos que cercam as cenas ou simplesmente fazem parte delas, e ainda assim uso o pouco que resta do meu insight pra colocar algumas palavras banais em uma folha de papel, embora não sejam tão requintadas e bem colocadas como todos esperam de alguém que se pôs à prova de ensinar aos outros.

Falando em ensinar, o que ensinam os nossos supracitados cafés? Idéias de uma revolução contra um mundo que trabalha pra ter o que comer? Sentimento de repúdio contra as coisas que são má distribuídas entre a população do planeta em que vivemos? É, acho que um pouco dos dois. Mas será que todos os nossos ensaios serão bem vistos aos olhos dessa gente, excetuando-se, claro, a burguesia? Será que obteremos condições de fazer com que as pobres pessoas que, repito, trabalham para ter o que comer, larguem este pouco que lhes resta e juntem-se à massa em fúria, que incita, em algumas oportunidades, revoluções armadas e sem cabimento? Sangue não sacia fome de estômagos vazios, a meu ver. Pois então, proteste contra a matança de galinhas d'angola, contra o extermínio dos texugos do Bosque dos Vinténs, contra os tapas de Dona Florinda em Seu Madruga, contra o abuso de autoridade de certas pessoas, contra a falta de libido de sua esposa, mas utilize ao menos um pouco de bom senso.

A certeza que caminha comigo hoje é que sei alvejado por conta de algumas palavras aqui postas.

É uma pena, mas tenho consciência que minhas palavras não são tão belas como as canções de Jacques Brel, tampouco fortes como a arquitetura de Pathos Verdes III.

De maneira ou de outra, cá estão as minhas palavras, e elas registradas sei que não serão perdidas em algum lugar do tempo.

Saudações de algum tipo de movimento que ainda deve estar pra surgir na vanguarda da Juventude.

Abraços...

15 de abril de 2010

Guarda

Não, não estou de campana.
E mais: Não sou apto a tecer julgamentos.
Concordo com teus anseios de viver a vida intensamente, pois o que se perde é só o tempo.
O que é relevante a essa hora?
Todos tem pensamentos lúbricos, às vezes.
No âmago de cada ser, só ele próprio se conhece.
Cubra-se, esconda-se em sua redoma.
Olhará para os lados e nos verá através de um vidro...
Tudo o que nos pertence é o que pensamos,
E nada nem ninguém vai nos tirar isso.
Ainda que me odeie, vai lembrar de mim por isso.
Por ser tão lasciva quanto eu...
Mesmo que me odeie, vou te fazer ver que nada está como pensa agora...
Uma parte que em sua confissão, te completa. Só isso.
Nossos pés jamais estiveram acorrentados.
Não devemos ir mais fundo do que onde já estamos.
Nunca quis um título de posse...
E conhecer não foi invadir teus pensares.
Nunca fui dominador (intencionalmente)...
Conseguiste alguma vez mudar alguém?
Minha maldade já me conferiu o título de mestre da mágoa.
Meu caminho não é o mesmo que o seu, mas tem o mesmo fim.
Os passos são muito parecidos.
Ainda que me odeie, vai pensar em mim daqui um tempo...
Vai pensar porque não quis realizar nossos planos...
Sou apenas um amante...
Que não tem pés acorrentados ao chão,
Mas que quer voar acima, nunca abaixo...
Cremos no que queremos...
E nunca vou saber ao certo no que crê...

7 de março de 2010

COLÓQUIO DE NOITE QUENTE - PARTE 2

“E agora... o que hei de fazer!” Balbuciou consigo próprio o intrigado Tim, de posse do número que havia colhido junto à formosa Lena. Mal sabia ele que ansiosamente, desde o primeiro e último encontro, a moça esperava ansiosamente por sua ligação. E o frágil Tim continuava a duelar com sua própria consciência em busca de uma solução, ou mesmo de um lampejo de coragem para resolver de vez esse mal estar que lhe tomava os pulmões e lhe causava palpitações toda vez em que pensava nele. Desceu então de seu Ford, sacou da sua carteira e fora em direção do armazém de Seu Magela, um que ficava de esquina.

Como de costume, pediu sua soda. Magela, como bom conhecedor de Tim, a quem teve visto crescer correndo pelas ruas e se escondendo em seu armazém nas brincadeiras de pique - esconde, logo percebera que o rapaz estava com algo a lhe incomodar, e que este algo era no âmbito sentimental. Sendo assim, lançou as palavras que seguem:

-Que lhe aflige rapaz? Está mais branco que um saco de arroz e mais ofegante que um centro-avante aos quarenta do segundo tempo!

-N-nada Sr. Magela! Achou por bem pegar-me pra Cristo hoje! Pois, veja que não quero ter de deixar de vir ao seu estabelecimento.

-Calma rapaz! Estou apenas lhe questionando, não quero de maneira alguma que faça mal juízo de mim. Vejo agora em você os mesmos olhos do garoto de oito anos que aprontava suas boas nesta rua.

-Mas nada aprontei até agora, está equivocado o amigo.

-Não aprontou, mas tens de aprontar e não está a encontrar coragem pra isso. Conheço-te bem rapaz! Dime o que está a enfrentar. Tenho experiência de sobra para assuntos do coração.

-Mas que assuntos do coração Magela? De onde tira tais coisas? Sabe que meu coração é selado contra este tipo de mal, e que não vou ficar me machucando por aí pra na minha velhice estar tão melancólico e com ares de cupido feito você e mais meia dúzia que estão a jogar damas naquela praça.

-Rapaz... Já fui jovem como tu és hoje e sei que há horas em que as calças parecem não valer de nada nesta fase da vida. Mas bem, se quiseres pode me procurar, desde que esteja decidido em me dizer o que se passa.

-De certo não acontecerá. – Teve que dizer batendo o copo no balcão e saindo aborrecido, mas ainda tenso com a ligação que devia para Lena. Trancafiou-se em seu aposento, esperando ainda o tal acesso de courage que não viria tão cedo. Passara o dia a olhar para o teto e observar a vitrola que tocava o Rock 'n Roll, martelando com suas idéias e confabulando com sua consciência pela falta de atitude. Sabia ainda que não se perdoaria se não fizesse aquilo, e que se não fizesse logo, teria uma oportunidade dourada disperdiçada. Então, por volta das vinte horas e trinta, desceu à rua espiando o que ocorria, e teve como vista o velho Magela a fechar sua bodega. Aproximou-se já proferindo um “Não sei como conseguirei ligar para este número”.

Virou-se então o bom amigo Magela:

-Sabia que eu estava certo rapazote. Este medo estava a se estampar em sua face. E a blindagem de seu coração? Caiu neste momento?

Tim apenas baixara a cabeça e respirara fundo...

-Vamos lá rapaz, acorde pra vida! Pegue aquele fone e inspire-se na noite em que a viu pela primeira vez! Apenas a convide para um malte ou um filme e deixe que sua boca faça o resto do serviço guiado pelo coração, não há meio de acabar em erro.

-Não sei ao certo...

-Pois eu rapaz, estou certo tanto quanto que as rugas de minha pele são por conta da idade. Mas não lhe aborrecerei mais. Vou descansar minha alma desgastada. Tenha boa noite, ao pique que anda, sem companhia.

Era o que precisava para pensar na última vez que havia a visto. A história das Vemags estampadas... Naquele dia seu ímpeto era impossível de conter. Não se sabe se por conta do malte, ou de alguma outra droga lícita que fizera uso. Tim então liberou novamente tal ímpeto, dirigindo-se ao fone que a poucos metros estava. Sacou o papel amassado de sua carteira e discou com a mão trêmula os números rabiscados nele.

Após alguns momentos, o outro lado respondia:

-Casa dos Soares, boa noite.

A voz meiga e doce já anestesiava todo o corpo, ou ainda, causava mais tremor de seus músculos. A camisa subira um tom de cor devido à forte transpiração.

-A-a-alô, Lena? Helena é quem fala?

-Tim! É você mesmo! Pensei que ficaria a esperar por décadas esta ligação...

Neste momento só se via nos olhos de Tim as pupilas mais que dilatadas pela adrenalina.

CONTINUA...

25 de fevereiro de 2010

Um dia a tempesdade passa...

Sempre, tempestades, tremores.
Algozes de nossas inseguranças e tristezas.
Incertezas que constituem o infinito mar de dúvidas do ser humano.
Certezas que completam a extrema fragilidade de milhares de corações.
Modelos de crimes para expiar nossas culpas são criados.
Alguns perfeitos outros nem tanto.
A tempestade é um crime perfeito.
Expiar nossas intrigas nela, nem tanto.
Pois bem, quando ela vem, demora a ir-se.
Não há planos nem previsão de sua estadia.
Pode durar um único dia.
(Este se faz de um século, daí a demora da sua partida)
Pode durar mês, ou mais.
(Então, contenha sua angústia)
A tempestade é forte.
O suficiente para nos levar com sua fúria.
Mas combinemos o seguinte:
"Vamos, ao menos por hora,
manter os nossos pés acorrentados junto ao chao.
Então, quando ela se for, nossos corações serão livres
para voar pelo infinito..."
É. A tempestade se foi, mas pode voltar.

25 de janeiro de 2010

13 de janeiro de 2010

COLÓQUIO DE NOITE QUENTE

-“Não é tão difícil assim quanto parece.” Disse ele em seu primeiro contato com tudo aquilo que lhe surpreendia na quente noite de sexta-feira. Tudo que queria era ter a certeza de que estava fitando os olhos pelos locais certos. E realmente estava. Chegara junto com seus amigos – que outrora o procuraram por precisar de ajuda – e observava tudo ao seu redor, como de costume. As vestes não eram as mesmas de outras ocasiões. Eram sim, as mais estranhas com as quais havia adentrado aquele recinto. A camisa, não era a costumeira, mas sim a sua pólo vermelha, já meio velhinha, mas que o agradava muito; a calça jeans já contava com um grande rasgo no lado esquerdo, bem em cima da costura. Isso já não era problema, dava certo estilo (só na visão dele). O sapato, bem, o sapato... Não era aquele de costume, mas o seu bom azul e branco cintilante. Apesar de tudo ele se sentia um estranho no ninho retornando àquele local, pensou que seria mais natural.
Aos poucos, outras faces conhecidas foram dando as caras, e tornando tudo um pouco mais amigável. Quem pensava em ir embora apenas vinte minutos após a chegada, começava a pensar em até quando poderia ficar contemplando a sua alegria temporária.
Os copos sempre se enchendo, ou mantendo-se cheios, e os risos davam conta da descontração, em conjunto com as piadas infames e comentários maldosos a respeito dos presentes. A música local já fazia com que vibrassem as vestes de todos no local, agradava por sua qualidade e ao mesmo tempo não era entendida por quase ninguém. O importante é que todos estavam ali, se divertindo, e, convenhamos, alguns de maneira muito intrigante. Pense só em um bando de homens descamisados e suados, formando uma roda e se abraçando ao som estridente de baixos e guitarras. Não era sua concepção ideal de diversão.
Mas foi bem quando algo que era raro de se ver desceu a escada que dava acesso à pista. Portava suas calças jeans simples, sua camisetinha amarela (não menos simples), e os cabelos bem do jeito que ele gostava. Curtos e repicados, mais longos na parte da frente. Negros. Só então se deu conta que da certeza de fitar os olhos pelos locais corretos. Intrigado por tal presença resolveu começar a sua comumente efetuada investigação, porém não via ninguém que pudesse ser o seu “caro Watson” por perto. Necessitar de alguém ali era a mesma coisa que pular da banqueta, quando condenado à forca. Sendo assim, fez algo de extrema raridade, deixou que tudo tomasse seu curso natural, e não custou muito até que ele o levasse onde queria, como se fosse uma pequena canoa sendo levada pela correnteza de um rio.  Dos rostos conhecidos que adentravam o local, alguns três ou quatro contavam com certa proximidade à moça. Pensara então: “Estão aqui meus Watsons!” Mas com seu jeito retraído e desconfiado voltava logo atrás: “Não, vejo ali apenas os punhais preparando seu bote.” Eis que entre um pensamento e outro, viera o que há pouco era seu concunhado com a abertura do colóquio:
-Belas visões têm daqui, compadre.
-É, de acordo. Tendo em vista que nos colocamos em meio a tantas atrocidades.
-Tens de ver que já se passa uns tantos das trinta primaveras, então tem uma bela vista, ainda assim.
-Seus tantos que passam são mais de uma primavera completa? – indagou surpreso.
-Não. – respondeu-lhe o compadre.
-Pois bem, não me preocupo com as primaveras que já lha pertencem, pois mesmo o que lhe fala conta com suas vinte e sete quase completas, e não se acha em final de curso, nem mesmo incapaz de oferecer algo que seja de bom grado à moça.
-Dou-lhe toda a sorte desta galáxia se queres repousar naquele chinelo, pés cansados – apoiou mais uma vez o compadre.
Coisas cada vez mais especiais passavam-se em sua mente fria e ardilosa. Era uma questão de tempo para que os seus gatilhos agissem rápido. Topadas aconteciam, devido à proximidade empregada, mas como se fosse nada agia, e com isso ia ganhando espaço – há mulheres que não suportam quando um homem desmerece sua presença – pois toda vez olhava em quarenta e cinco graus para o cidadão da esquerda, o que fora bem-afortunado pelo compadre.
Poucos topes, viria depois um pisão no pé e um pedido de desculpas por parte dela. Pronto. Armara-se todo o circo. Sorrisos tomavam conta da roda, e os olhares passaram a se cruzar como se fossem velhos conhecidos, e os copos não paravam de se encher, sendo drenados aos poucos ao som de boas gargalhadas. Em certo momento, quase todos de tal roda de alguma misteriosa forma – até mesmo para o maior dos gurus – se ausentaram, e esta ficou fechada em apenas quatro presenças. Eis que um dos copos secara, e tendo uma garrafa em sua mão, a mente ardilosa maquinou seu plano:
-Mais?
O sorriso não precisava nem emitir som para dizer que a resposta era um sim.
-Seu nome?  - perguntou regando a goela com o primeiro gole.
-Martins. Mas os compadres apenas optam por Tim. E o da pequena?
-Helena. Lena para os próximos.
-E qual a sua preferência?
-Pode ser desde já Lena, pra você.
-Pela distância ou pela conversa?
-Pelos dois. – e já se ia o penúltimo gole.
-Nunca reparei na sua presença aqui.
-Pois bem, eu não costumo freqüentar este local. Às vezes venho aqui e tomo meu tônico com os amigos.
-Pois já é esta a razão, então. Sirva-se de mais, estou já por parar.
-Já por parar? Que lhe causa isso?
-A direção de um automotor me aguarda em breve.
-Não faço posse de veículo, então não me preocupo.
-Havendo a necessidade posso ceder-lhe carona.
-Mesmo? Benção para o dia. Estava a depender do bonde. Mas onde fazes morada?
-Quinta de Palmeiras. Mais um agravante de estar por parar. E tu, onde a fazes?
-Valverde. A mim só as planícies fazem paisagem.
Estes poucos cinco minutos foram mais que suficientes para afunilar a proximidade que só se reforçara ao longo do colóquio. De mentes mais soltas, os dois falavam bem mais livremente. Ele então, apaixonado pelas Vemags, reparara em sua camiseta, que ilustrava várias delas:
-Gostei desta amarela. Também da laranja, da verde, vermelha, azul...
-Pensei que fosse dizer-me que havia gostado deste, preto – disse levantando a camiseta do ombro direito e permitindo-lhe ver o sutiã.
-Gosto mais daquilo que este cobre – soltou ele, sem pestanejar.
-Calma (risos)...
Esta foi a parte que mais lhe marcou a mente na conversa. Após esta, retornaram alguns dos rostos conhecidos, e fizeram com que o encanto fosse, se não interrompido, ao menos pausado. Então as estrelas iam rolando pelos céus, enquanto chegávamos a 4:20, sinal de que a noite já agonizava. Despede se então de todos os seus companheiros, sem eleger nenhum deles como “Watson”, e vai direto à pequena, tendo deixado-a por último propositalmente:
-Até breve então, Lena.
-Até, Tim! – disse beijando-lhe calorosamente o rosto.
Mais uma vez, sem que precisasse perder preciosos segundos, sacou da indagação:
-Posso ter acesso a teu número? Apenas para que possamos mar...
-De fato. Anote-o depressa – interrompendo-o fez saber o número.
Após mais um beijo de “cumprimento”, fora se dirigindo até seu antigo Ford, o estufado Tim. Se não atingiu um grande objetivo hoje, ao menos teve uma merecida massagem ao rijo ego. O único problema é que não se sabe quando a verá de novo. Pelo menos até o momento, tal coisa não acontecera.

CONTINUA>>>