7 de março de 2010

COLÓQUIO DE NOITE QUENTE - PARTE 2

“E agora... o que hei de fazer!” Balbuciou consigo próprio o intrigado Tim, de posse do número que havia colhido junto à formosa Lena. Mal sabia ele que ansiosamente, desde o primeiro e último encontro, a moça esperava ansiosamente por sua ligação. E o frágil Tim continuava a duelar com sua própria consciência em busca de uma solução, ou mesmo de um lampejo de coragem para resolver de vez esse mal estar que lhe tomava os pulmões e lhe causava palpitações toda vez em que pensava nele. Desceu então de seu Ford, sacou da sua carteira e fora em direção do armazém de Seu Magela, um que ficava de esquina.

Como de costume, pediu sua soda. Magela, como bom conhecedor de Tim, a quem teve visto crescer correndo pelas ruas e se escondendo em seu armazém nas brincadeiras de pique - esconde, logo percebera que o rapaz estava com algo a lhe incomodar, e que este algo era no âmbito sentimental. Sendo assim, lançou as palavras que seguem:

-Que lhe aflige rapaz? Está mais branco que um saco de arroz e mais ofegante que um centro-avante aos quarenta do segundo tempo!

-N-nada Sr. Magela! Achou por bem pegar-me pra Cristo hoje! Pois, veja que não quero ter de deixar de vir ao seu estabelecimento.

-Calma rapaz! Estou apenas lhe questionando, não quero de maneira alguma que faça mal juízo de mim. Vejo agora em você os mesmos olhos do garoto de oito anos que aprontava suas boas nesta rua.

-Mas nada aprontei até agora, está equivocado o amigo.

-Não aprontou, mas tens de aprontar e não está a encontrar coragem pra isso. Conheço-te bem rapaz! Dime o que está a enfrentar. Tenho experiência de sobra para assuntos do coração.

-Mas que assuntos do coração Magela? De onde tira tais coisas? Sabe que meu coração é selado contra este tipo de mal, e que não vou ficar me machucando por aí pra na minha velhice estar tão melancólico e com ares de cupido feito você e mais meia dúzia que estão a jogar damas naquela praça.

-Rapaz... Já fui jovem como tu és hoje e sei que há horas em que as calças parecem não valer de nada nesta fase da vida. Mas bem, se quiseres pode me procurar, desde que esteja decidido em me dizer o que se passa.

-De certo não acontecerá. – Teve que dizer batendo o copo no balcão e saindo aborrecido, mas ainda tenso com a ligação que devia para Lena. Trancafiou-se em seu aposento, esperando ainda o tal acesso de courage que não viria tão cedo. Passara o dia a olhar para o teto e observar a vitrola que tocava o Rock 'n Roll, martelando com suas idéias e confabulando com sua consciência pela falta de atitude. Sabia ainda que não se perdoaria se não fizesse aquilo, e que se não fizesse logo, teria uma oportunidade dourada disperdiçada. Então, por volta das vinte horas e trinta, desceu à rua espiando o que ocorria, e teve como vista o velho Magela a fechar sua bodega. Aproximou-se já proferindo um “Não sei como conseguirei ligar para este número”.

Virou-se então o bom amigo Magela:

-Sabia que eu estava certo rapazote. Este medo estava a se estampar em sua face. E a blindagem de seu coração? Caiu neste momento?

Tim apenas baixara a cabeça e respirara fundo...

-Vamos lá rapaz, acorde pra vida! Pegue aquele fone e inspire-se na noite em que a viu pela primeira vez! Apenas a convide para um malte ou um filme e deixe que sua boca faça o resto do serviço guiado pelo coração, não há meio de acabar em erro.

-Não sei ao certo...

-Pois eu rapaz, estou certo tanto quanto que as rugas de minha pele são por conta da idade. Mas não lhe aborrecerei mais. Vou descansar minha alma desgastada. Tenha boa noite, ao pique que anda, sem companhia.

Era o que precisava para pensar na última vez que havia a visto. A história das Vemags estampadas... Naquele dia seu ímpeto era impossível de conter. Não se sabe se por conta do malte, ou de alguma outra droga lícita que fizera uso. Tim então liberou novamente tal ímpeto, dirigindo-se ao fone que a poucos metros estava. Sacou o papel amassado de sua carteira e discou com a mão trêmula os números rabiscados nele.

Após alguns momentos, o outro lado respondia:

-Casa dos Soares, boa noite.

A voz meiga e doce já anestesiava todo o corpo, ou ainda, causava mais tremor de seus músculos. A camisa subira um tom de cor devido à forte transpiração.

-A-a-alô, Lena? Helena é quem fala?

-Tim! É você mesmo! Pensei que ficaria a esperar por décadas esta ligação...

Neste momento só se via nos olhos de Tim as pupilas mais que dilatadas pela adrenalina.

CONTINUA...